quarta-feira, 16 de abril de 2008

Uma dor que não sei de onde vem


"Eles estão se adiantando, os meus amigos.
Sei que é útil a morte alheia
para quem constrói seu fim.
Mas eles estão indo, apressados,
deixando filhos, obras, amores inacabados
e revoluções por terminar.
Não era isto o combinado.

Alguns se despedem heróicos,
outros serenos.Alguns se rebelam.
O bom seria partir pleno.

O que faço?Ainda agora
um apressou seu desenlaçe.
Sigo sem pressa. A morte
exige trabalho, trabalho lento
como quem nasce."

Afonso Romano.


Soube há pouco da morte de meu amigo Sylvio Bastos, o Bailarina. Andava distante de mim desde que se desligou da empresa. Sylvio tinha a idade do meu pai e por muitas vezes, me chamou de filho, e foi, efetivamente, um bom pai. Pai de nós todos, médicos auditores, hoje órfãos dos seus conhecimentos e da sua amizade.

De auditoria médica, Sylvio sabia muito. Taxado de inflexível, depois de 20 anos de serviços prestados com pouquíssimos reconhecimentos, aceitou encarar a pós graduação e passou dois anos a ensinar seus professores.

Era uma pessoa difícil de lidar. Difícil para muitos. Mas pra mim? Qual nada! Depois de cinco minutos de conversa, se desarmava e se desmanchava numa docilidade fraterna, comum aos amigos que se conhecem e se gostam demais.

Minhas últimas idas a Camboinhas foram para ver Sylvio. Gostava de uma pinga, estava sempre servindo uma de Ribeirão Preto, que trazia aos galões todo ano. Agora que me deixou, de quem mais vou reclamar dos mini-bifes que servia em sua casa, pequenos demais para meu apetite? Quando teremos uma nova peixada maravilhosa, como fez o Wagner Lins na casa dele há alguns anos? E quantas conversas de mútua compreensão, de varar noite ao telefone?
Sylvio sabia de música, adorava uma fossa, como essa do título do post. Fazia questão de dizer que a canção era do De Chocolate, um velho conhecido seu. E era excelente pé de valsa, o que lhe valeu o apelido.

Sabia que estava doente, mas nunca deu o braço a torcer. Era um homem de trabalho duro. Da raça dos que não negam ajuda. Que não se machucam com facilidade. Operou as coronárias e auditou a própria conta. Per evento!

Seus grandes amigos eram seus cães, que chegaram a ser 45. Fez uma casa só para eles. Chegávamos lá e era aquela farra de cachorro latindo. Era ali que a gente via o Sylvio mais carinhoso, o mais afetivo. Ele e sua Amorim.

O mundo vai ficar mais pobre sem o Bailarina. Morreu sem que eu pudesse lhe dizer um simples obrigado.

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