domingo, 6 de julho de 2008

Perder, ganhar, viver

Hoje é domingo, são 17, acabo de chegar de Paraty. Uma maratona de mesas de discussões, boa comida e Maria Marta. Esse ano fui com Nelinha. Em Paraty, o TIM WEB parecia uma mula empacada, por isso não pude fazer os comentários em tempo real como pretendia. Faço agora em retrospectiva resumida.

Chegamos na quinta, cansados de tanto torcer pelo Fluminense na quarta. Sobre o fiasco na Libertadores, limito-me a comentar que Fernando Calazans e Renato Maurício Prado escreveram muito melhor do que o que eu escreveria aqui, no Globo de sexta. Decidimos que nada atrapalharia nosso roteiro na FLIP.

Paraty tem o dom de fazer renascer a musculatura cansada e o esgotamento mental, de forma que levamos bem a quinta. Começamos com o Camarão Geraldo Lins do Santa Rita, um manjar dos deuses obrigatório em todas as nossas idas a Paraty. Depois fomos ver Humberto Werneck e Xico Sá.

Humberto Werneck está lançando O Santo Sujo, a vida de Jaime Ovalle. Há uma multiplicidade de coisas interessantes sobre Jaime Ovalle, um sujeito que, apesar de não ter escrito quase nada e feito umas pouquíssimas canções, conseguiu influenciar Bandeira, Schmidt, Drummond, Vinicius e muitos outros expoentes da nossa literatura. O que mais nos interessou em Ovalle foi o fato dele ter criado a nova gnomonia. A nova gnomonia divide a humanidade em Parás, Dantas, Kernianos, Mozarlescos e Onésimos. Os Parás, ou do Exército do Pará, são esses homenzinhos terríveis que vêm do norte para vencer na capital. Os Dantas são os homens de ânimo puro, nobres e desprendidos, indiferentes ao sucesso na vida, cordatos e modestos, ainda quando tenham consciência do próprio valor. Os Kernianos são os impulsivos. Indivíduos de bom coração, capazes de grandes sacrifícios, pelos outros, deixam-se arrastar às vezes, à prática dos atos mais condenáveis, não por maldade, mas por um impulso irressistível de cólera. Os Mozarlescos são pessoas que se exprimem de modo a fornecer aos que os observam, uma impressão de coisas consideráveis, ao que todavia não corresponde o conteúdo de suas palavras ou de suas ações. Os Onésimos são aqueles que sempre instalam uma nuvem negra por onde passam. Onde aparecem, são sempre assim: duvidam, sorriem, desapontam. Diante deles, ninguém tem coragem de chorar. Tudo isso está descrito com riqueza de detalhes no livro e nas Crônicas da Província do Brasil, de Manoel Bandeira. O fato é que ficamos brincando de classificar as pessoas e aperfeiçoar a nova gnomonia durante um bom tempo na FLIP.

Sexta de manhã, fomos ver João Gilberto Noll inspiradíssimo, lançando seu novo livro, Acenos e Afagos. Depois fomos almoçar com Maria Marta no Margarida Café. E ela nos brindou com os Gudins e os Vanzolinis que tanto amamos. De noite fomos ver David Sedaris e seu Veludo Cotelê. David é uma espécie de Senfield da literatura americana. Muito simpático. Perguntado sobre o suicídio, comentou que embora não seja um suicida em potencial, muitas vezes passa pela cabeça que não se importaria muito que o aviao caísse.

O sábado nos guardava uma das melhores mesas que já participamos em todas as FLIPs: O colombiano Fernando Vallejo e o holandês Cees Noteboom. Os dois, com uma maneira muito diferente e pessoal de escrever, acabaram patrocinando uma grande discussão sobre política, religiosidade e viagens. Nossa foto com Fernando Vallejo aí em cima.

Por fim, hoje de manhã uma mesa muito interessante com Pierre Bayard e Marcelo Coelho. O primeiro lançando o interessante Como falar dos livros que não lemos. A participação de Marcelo valorizou muito bastante a mesa.

A Festa Literária de Paraty tem mudado um pouco seu foco para os modismos, mas continua a ser um lugar altamente propício para a boa leitura, reflexão e descanso. Ano que vem eu volto.

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