sábado, 24 de janeiro de 2009

Nada pra fazer em São Paulo

O húngaro Sándor Marái viveu entre as duas guerras na Hungria e no exílio, escreveu 46 romances e deu cabo de sua vida com um tiro de revólver em 1979, em San Diego. Dele, acabo de ler As Brasas, um depoimento visceral sobre a solidão, embora conte a história de uma amizade ruída. Ou as duas significam a mesma coisa?
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"A gente vai envelhecendo aos poucos: numa primeira fase, atenua-se a vontade de viver e de ver nossos semelhantes. Vai prevalecendo o sentido de realidade, vai se esclarecendo o significado das coisas, você acha que os acontecimentos se repetem monótona e fastidiosamente. Isso também é um sinal de velhice. A gente envelhece assim, pedaço por pedaço. E então, de repente, sua alma envelhece: mesmo sendo o corpo efêmero e mortal, a alma ainda é movida por desejos e recordações, ainda procura a alegria. E quando também desaparece esse desejo de alegria, só restam as recordações e a inutilidade de todas as coisas: nesse estágio, estamos irremediavelmente, velhos. Um dia você acorda e esfrega os olhos e não sabe mais por que acordou. Já sabe exatamente o que o dia apresentará aos seus olhos: a primavera ou o inverno, os cenários habituais, as condições atmosféricas, a ordem dos fatos."
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Dei um jeito de sair batido de São Paulo ontem no final da tarde e retornar para o Rio. Marluce, a secretária da diretoria, conseguiu antecipar meu vôo. Uma hora entre São Paulo e Rio, duas horas entre Rio e Niterói, a ponte parada.
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Depois de muitos anos, não tem Blue Tree Park melhor do que a nossa velha e boa cama. E São Paulo ontem não era para mim, mais do que uma cama king do Blue Tree Park.
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O Cláudio acaba de comprar mais um acervo de discos irrepreensivelmente bem cuidados. Aproveito algumas pérolas importadas. Reluto de pensar no meu acervo. Algum dia reinará num sebo também.
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Na verdade, um amontoado de discos e livros que estão asfixiando o velho apartamento do Ingá. Não há solução mágica que os deixe arrumados.

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