domingo, 12 de julho de 2009

Blanc , Mirisola e a MPB hereditária

Bem que eu venho querendo escrever um texto bacana sobre a entrevista concedida à Marcelo Mirisola por Aldir Blanc no Congresso em Foco há alguns meses. Gosto muito dos dois. Do primeiro, por ser um provocador legítimo, coisa difícil de se achar hoje em dia. E de Aldir, não preciso escrever nada: é o letrista brasileiro mais tocante que já ouvi e no quesito provocação, é professor de Marcelo. De alguma forma, o encontro dos dois, tem qualquer coisa de mágico pra mim.
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Mas estou aqui ainda sob o pasmo dessa derrota do Fluminense para o apático Santo André, cujo melhor jogador é Marcelinho Carioca, do alto dos seus 38 anos! Pode ser que vá sair uma bobagem esse texto, mas vá lá!
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Mirisola provoca Aldir o tempo todo, querendo extrair dele uma tirada genial de cuspe a distância. Aldir não rejeita a provocação. O clímax da entrevista é quando Mirisola fala da MPB hereditária. Essa música brasileira que vem sendo feita por músicos filhos de ícones, tipo Maria Rita, Simoninha e outros. Nessa hora, Aldir parece procurar mais a elegância do que a agressão. Poderia se dizer que são filhos de velhos parceiros e amigos de Aldir e ele se constrangeu. Mas não! É aí que consegue extrair os melhores momentos da entrevista e dá aula em Marcelo de que o provocador tem que conhecer muito da vida para sair atirando para todos os lados. Sem perder o condão de alfinetar, Aldir se sai numa elegância soberana, condizente apenas com os grandes sábios. Há pontos comuns entre o que eu penso dessa geração e o que Aldir quis dizer nas entrelinhas.
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1) "Acho que os filhos do Simonal mereceram um destaque excessivo, talvez uma espécie de culpa pelo patrulhamento do pai.." - isso, pra mim, está estampado nas coisas que eles fazem. Cansei de ouvir Max de Castro e Simoninha, até tenho alguns discos, mas eles nunca me disseram nada! É uma coisa que parece querer dar sequência à bossa, mas tem pouca textura.
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2) "Maria Rita é um talento puríssimo, tão grande que tenho até medo de falar nela" - mais uma grande verdade! Maria Rita pode não ter 10% da verve de Elis, mas mete medo vê-la cantar para todo Mundo que já viu Elis. É de um parecer embriagador!
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3) "Cláudio Lins canta muito bem e está amadurecendo como ator." - Nessa aí, o Aldir me pegou. Não consigo enxergar nada em Cláudio Lins, além do fato de ser filho de uma grande cantora (Lucinha) e de um grande compositor (Ivan). Mas prometo prestar mais atenção!
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4) "Sou padrinho do Chico Bosco, conheço bem seu trabalho, ele é um letrista excelente" - Concordo. Francisco Bosco tem feito o que pode para sair da sombra do pai. E tem as letras maravilhosas do disco As mil e uma aldeias, principalmente O Sacrifício. Esse disco foi muito pouco ouvido, merecia sorte maior.
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Dessa nova geração, eu acrescentaria outros que ainda não me convenceram: Luciana Melo, Jair Oliveira, Bena Lobo, Pedro Mariano, tudo parece respingado de uma música insossa, sem brilho, e uma que eu gosto muito: Carol Saboya, filha de Antônio Adolfo, que vem mostrando personalidade desde os primeiros discos.
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Finalmente, uma percepção do Aldir sobre a máscara que algumas pessoas ganham da imprensa de isenção, pareceu me bastante sábia:
"O que me incomoda é o seguinte: tanto faz se algumas das pessoas citadas fizerem um bom trabalho ou não, a crítica será sempre elogiosa. Isso aconteceu várias vezes, inclusive num plágio descarado. Alberto Moravia dizia que alguns, provavelmente se referindo a Ítalo Calvino, são protegidos por um escudo de amianto, enquanto outros não podem cometer o menor deslize. É verdade. Sobre o tal escudo, lembrei da forma como a bebida é tratada. O Tom, o Nelson Cavaquinho e outros podiam encher a cara. Se o João Antônio virasse um conhaque, o clima era de "tsk, coitado, é alcoólatra". João Ubaldo sobreviveu a uma espécie de Auschwitz midiático. Gabeira queima um fuminho e é um libertador. Se eu acender um pavio, vão dizer: "além de bêbado, é maconheiro"."

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