sexta-feira, 31 de julho de 2009

Chegar e partir

"Ninguém pode fugir do erro que veio."
Manoel de Barros.
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Retornei hoje a Miracema, vim trazer Chicolino e passar o fim de semana com Laura e Luisa. Há quase um mês não baixava aqui. Férias de julho, as crianças foram. E aproveitei bastante delas lá.
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Carrego meus vícios desde sempre. Para o bem e para o mal. Um dos meus males é ficar irritado por pouca coisa. Tenho feito treinamento intensivo contra. Tipo ser o último a sair da barca, aguentar velhas conversas fiadas sorrindo, procurar entender e aceitar sempre que possível. Mas as partidas são sempre difíceis, são um exercício de paciência. Carregar malas, checar portas, tirar carro da garagem sempre foi um tormento pra mim. Hoje não foi diferente. Fiquei incólume até ter um pequeno ataque de pelanca por qualquer coisa. Depois serenei de novo.
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Acho que minhas filhas nunca vão me tirar da categoria nervoso. Por mais que eu viva me policiando, é difícil pra elas entender que eu mudei, pombas! Ficou gravado na memória delas minha irritação com as partidas.
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No entanto, adoro as chegadas. Não me incomodo em carregar malas e compras, estacionar a S10 na garagem "pega-varetas" do meu prédio. Sei que vou encontrar a casa cheirosa, daqui a pouco o Celso Barbeiro, daqui a pouco o bom banho, daqui a pouco, Laura e Luisa, daqui a pouco o Bunda de Fora.
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Por alguns tempo, tive um desprazer imenso em chegar aqui. Não era irritação. Era tristeza! Dor de chegar e não ter para onde ir. Dor estilhaçada de ter e não ter: casa, filhos, trabalho, prazer, tudo revirado naqueles tempos de cão. Chorava copiosamente nas minhas chegadas.
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Depois de cinco ou seis anos, voltei a ter um chegar sereno. Consigo ver a cidade com olhos de filho. Velhos pacientes ainda me cumprimentam, aqui e ali tem sempre um ar de aconchego. No meu viver, há um pedaço de tudo isso.

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