sexta-feira, 24 de julho de 2009

Um conto taoísta


O duque Mu da China disse a Po Lo: "Você está bem entrado em anos. Haverá alguém de sua família capaz de substitui-lo na tarefa de procurar cavalos para mim? " Po Lo respondeu: "Um bom cavalo pode ser selecionado por sua aparência e constituição física. Mas o cavalo fora de série - o que não levanta poeira nem deixa rastro - é algo evanescente e fugidio, tão intangível quanto o ar rarefeito. Os talentos de meus filhos situam-se em plano definitivamente inferior: reconhecem um bom cavalo quando o vêm, mas são incapazes de identificar um cavalo excepcional. No entanto tenho um amigo, chamado Chiu Fang Kao, um vendedor de lenha e de legumes, que não fica nada a me dever em matéria de cavalos. Por favor, fale com ele.
O duque Mu assim o fez, enviando-o logo depois em busca de um cavalo. Passados três meses, ele voltou anunciando que o encontrara. "Está agora em Sach'iu", acrescentou. "Que tipo de cavalo é ele?", perguntou o duque. "Ah, é uma égua meio baia.", foi a resposta. Porém, quando alguém foi buscar o animal, verificou-se que era um garanhão negro como carvão! Muito contrariado, o duque mandou chamar Po Lo. "Esse seu amigo, disse ele, que contratei para encontrar um cavalo, meteu os pés pelas mãos. Ora bolas, não sabe distinguir a cor ou o sexo de um animal! O que ele pode entender de cavalos?" Po Lo soltou um suspiro de satisfação. "Será que ele chegou a tal ponto?" perguntou em tom excitado. "Ah, então ele é dez mil vezes melhor do que eu. Não há comparação entre nós. O que Kao tem em sua mira são os elementos espirituais. Certificando-se do essencial, esquece os detalhes comezinhos; concentrando-se nas qualidades internas, perde de vista, os sinais exteriores. Ele vê o que quer, e não o que não quer ver. Vê o que precisa ver, e esquece o que não precisa ver. Kao é tão sábio como avaliador de cavalos que deveria julgar algo melhor do que simples animais."
Quando o cavalo chegou, provou ser extraordinário.
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Esse conto taoísta, que está escrito em Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira, J. D. Salinger, povoa minha memória fóssil há muitos anos, desde que li o livro (a primeira edição no Brasil, a que li, chamava-se Pra cima com a viga, moçada!). Tentava reproduzi-lo ontem para Wanderley e Cláudia, da Câmara Técnica de MBE, com idéia de transferir os cavalos para a evidência científica de boa qualidade. Tudo são escolhas e a toda hora, somos instados à condição de juizes. Acho que o melhor tempo é aquele em que não precisamos escolher. Vivemos simplesmente!
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Peguei foi chuva! Uma chuva fininha, gelada e corrida, atípica, veio me acompanhando até o Ingá. Esse tempo está propício para hibernar e ouvir música.
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A cantora Joyce Moreno se redime de todo esse tempo que ficou fazendo música para inglês ouvir nesse novo Slow Music. E apresenta um pianista (Hélio Alves) finíssimo, desses que a gente não sabe porque não ouviu até hoje.
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Welington Monteiro tem o dom de sumir na hora que o Fluminense leva gol. Botei a câmara em slow motion nos dois gols do Atlético Mineiro e Welington Monteiro tinha sumido. Ou Renato Gaucho dá mais visibilidade à defesa, ou vai ficar sempre um buraco ali onde passam os gols. De qualquer jeito, o time que perdeu para o Atlético foi outro. Já estou quase entrando na campanha Renato Gaúcho, eu acredito, proposta pelo corregedor Delto Muriaé.

Um comentário:

Rita Bergo disse...

Estou lendo o livro Carpinteiros... e estou apaixonada por ele. Já era apaixonado pelo Apanhador...
Adorei encontrar o conto aqui no seu blog, muito grata...

Abraço,

Rita

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