quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Até breve

Mário Guilherme era um homem a frente do seu tempo.
Conheci Mário numa festa no sítio do João Leitão em Miracema. Na época, Marila ainda tinha cabelos longos. O que mais me chamou a atenção foi que no final da festa, o sujeito que tocava banalidades, deu-lhe o microfone e ele começou a cantar Arrumação. Ôpa!, pensei, eis aí um igual!
Tímido, puxei alguma conversa, mas dali não saiu muita coisa. No dia seguinte, deixei na Casa de Saúde Santa Mônica, uma lembrança daquele dia: o disco Taperoá do Vital Farias. Era uma parte de mim que deixava para eles. Mais tarde retribuíram com milhares de partes.
Tempos depois nos vimos na Kiskina em Miracema, eu estava voltando da Casa de Saúde e era dia de comício em frente a minha antiga casa. Tomamos um chopp e levei os dois pra minha casa. Dali pra frente, nunca mais nos separamos. Nem altos nem baixos serviram para interferir na nossa relação. Luisa, então com 2 anos, passou a chamá-lo de Marilo. Era uma relação movida à música. Dividíamos cada descoberta, cada acorde novo que aparecia, cada nota.
Ontem mesmo lembrava do dia que fomos aos Arcos ver Moacir Luz. Na época, eles ainda estavam muito ligados ao forró e quando Moacir puxou Santa Cecília protege o tocador, os dois se levantaram e foram dançar próximo ao pequeno palco. Levaram uma ovação que deixou Moacir em segundo plano.
Numa esquina do tempo, Mário me deu Letícia, certamente a pessoa mais encantadora que conheci nessa vida. Fomos unha e carne por muitos anos, até que uma quantidade enorme dessas coisa que a gente nunca vai entender, nos separou. A convivência só fortaleceu a amizade e, de fato, nunca nos separamos de verdade. Letícia nunca deixou de ser parte de mim. Parte da minha melhor parte.
Jacob do Bandolim adorava Adelino Moreira e não gostava de Edu Lobo. Mário também. Tinha um cacoete para a emoção que a música lhe proporcionava. Gostava da linha reta. Nem por isso deixou de valorizar as dissonantes.
Como Jacob e Mário, eu também amo Adelino. Sou assim também . O que mais me emociona são os fados, os tangos, choros, abismos. E agora que o perdi, acredito que o número de pessoas que se entendem por música comigo, vai cair para dois ou três, se muito.
Éramos dois apaixonados pelo Fluminense, cada um com seu jeito próprio de sofrer. Enquanto eu sofria (e sofro) até o último minuto do segundo tempo, Mário abandonava o time quando ele começava a perder, e só voltava a ver os jogos quando melhorava. Olhava de banda os resultados depois dos jogos e muchochava muito. Quando ganhávamos do Flamengo, era festa de ganhar campeonato. A última vez que fui ao Maracanã foi com ele foi quando o Fluminense foi campeão carioca em cima do Volta Redonda.
Era mais que tudo isso, um grande amigo. Parceiro querido, companheiro de muitas alegrias e algumas dores. Não dessa dor maior que foi perdê-lo. Do jeito que era, vai estar sempre na categoria dos insubstituíveis.
A vida é breve, por isso, não estranho que logo estaremos juntos, apenas nas boas lembranças que proporcionamos aos que amamos.
Por tudo que me ensinou de integridade e de companheirismo, nunca vai deixar de existir nas minhas mais resguardadas lembranças.

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