sábado, 23 de janeiro de 2010

Bodega

Peço desculpas de ser
o sobrevivente.
Não por longo tempo, é claro.
Tranquilizem-se.
Mas devo confessar, reconhecer
que sou sobrevivente.
Se é triste/cômico
ficar sentado na platéia
quando o espetáculo acabou
e fecha-se o teatro,
mas triste/grotesco é permanecer no palco
quando o público já virou as costas
e somente as baratas
circulam no farelo."

Drummond, Declaração em juízo.

Ia falar dessas coisas pequenas que a gente perde e vai deixando pra trás, tais como provar de determinados sabores. Do que vale a vida, se não voltarmos às coisas pequenas? Àqueles lugares para os quais, tudo que a gente tirou dali foi prazer e boa conversa? Onde a fogueira das vaidades simplesmente não existia? Hoje tudo parece que tem que ser pensado, medido, calculado, antes de ser falado. .
Já tinha um bom tempo que eu não ia ao restaurante Bodega. Coisa de uns cinco ou seis anos. Tramei algumas idas com Mário e Marila, que acabaram por não acontecer. Não há cascudo melhor do que o do Tatu. Aprendeu a fazer o peixe desde menino. . .
Pois bem,ontem, movido por uma euforia cansada, mas decidido a comer um bom cascudo, peguei Jadim, Teresa e S. e fomos ao Bodega. E passamos uma noite bastante agradável na companhia do Tatu, ainda que não tivesse cascudo. Tivemos que nos contentar com robalos e traíras. Ninguém se importou. O molho e aquele arroz branquinho e mole continuam lá. E a boa companhia, o papo abstêmio, a chuva margeando o bar, tudo era muito tranquilo e muito bom.
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Hoje chamei S. pruma sessão de cinema e assistimos A outra. Natalie Portman tem que comer muita farinha ainda pra fazer Ana Bolena. Esse é um dos principais defeitos do filme. Quem assistiu The Tudors, certamente estranhará esse morno A outra.
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No fim do dia, lembrei dessa poesia do Drummond postada aí em cima. É assim que eu tenho me sentido às vezes. Ainda um sobrevivente. E com uma vontade enorme de pedir desculpas a todos que partiram por ter ficado,

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