terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Perder, partir, continuar



" Farto de tudo, clamo a paz da morte
Ao ver quem de valor penar em vida
os mais inúteis com riqueza e sorte
e a fé mais pura triste ao ser traída
honras a quem vale nada
a virtude prostituída
a perfeição caluniada
a força, enfraquecida
E o déspota calar a voz da arte
E o néscio, feito um sábio, decidindo .

Farto de tudo, penso.
Parto sem dor
Mas, ao partir, deixo só o meu amor. "

Shakespeare, Macbeth

Estou vendo Som e fúria, a série dirigida por Fernando Meireles, com um ano de atraso, porque não há a mínima possibilidade de acompanhar qualquer coisa que seja na rede globo, em especial aquelas que começam depois das 23h, cujos horários são desorganizados, mas o intervalos continuam extensos. Detesto intervalos.
Pois bem, lá pelas tantas, Dante, o personagem de Felipe Camargo recita esse trecho de Shakespeare. Fui ver na tradução da Bárbara se estava correto. Também ando farto. Principalmente de perder.
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Nesses últimos dias, perdemos o pianista Helvius Vilela e o escritor John Fante.
Helvius tocou em alguns discos antológicos da Nana, discos que sei de cor a ordem das faixas, a letra das canções, que fizeram parte de mim e ainda fazem porque nunca se esgotam.
Quanto à Fante, tenho que confessar que lembro muito pouco de Pergunte ao Pó, que li ali por volta dos meus 20 anos, e vou ter que reler. Lembro mais de 1933 foi um ano ruim. Não lembro o suficiente pra fazer qualquer comentário, só sei que gostei dos dois.
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Perdi meu avô, minha referência de menino, quando tinha 9. A poesia de meu avô, pelo menos a pouca que conheci, tinha os abismos de Shakespeare, Bilac, Cartola. A foto é de 52, e meu avô está acompanhado por Zezé Moreira, então técnico da Seleção Brasileira, e pelo Seu Jofre, que ainda é vivo. Caminham pelas ruas da mesma Miracema que caminhei de madrugada com S.
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Que importância têm no final de um dia quente no centro do Rio, uma velha foto, um velho poema e um esgotamento quase perverso?

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