quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Dei um talho em meu próprio sentimento


Sou a dobra de mim sobre mim mesmo
Nesse afã de ganhar de quem me ganha
Tento andar no meu passo e vou a esmo
Tento pegar meu pulso e ele me apanha
Eita, sombra rival que me acompanha
Artimanha de enconsto malfazejo.

Rodopiei, beijei o chão, cambei pra cá
Meu mestre rei foi Salomão, camará!

Dei um talho em meu próprio sentimento
Pra que o mundo fulgure na clareira
Que esse nervo me aviva o sofrimento
Que esse olho é motivo de cegueira
Ê, presença difusa, desordeira
Giro de furacão sem epicentro
Desafiei, puxei facão, ponguei pra lá
Vazei no peito esse intrujão, camará!

E vem pernada aí
Vem não, foi desvario
E vem navalha aí
Vem não, foi calafrio

A roda vai abrir
Quando eu cair
No vazio
Meu sangue arredio, arrevesado
Arranco e derramo em oferenda
Mas não ponho fim nessa contenda
Com meu coração esconjurado
Camará, Camará, Camará...

Sei de um rosto escondido no espelho
Bem depois do cristal iridescente
Entro no meu juízo e destrambelho
Entro no meu caminho e passo rente
Eita, angústia que vai minando a gente
Capoeira contra Pedro-Botelho

Guinga e Thiago Amud

Devo esclarecer, inicialmente para mim mesmo, que vivo caindo nessa armadilha, que não concordo com o descanso como forma de consolo. - Fulano descansou! Como assim?!? Quero minha Tia de volta, comandando a casa e a família, consertando as coisas como era do seu feitio. Não posso definitivamente querer que ela descanse.
Ontem já era outro dia. Precisava vir ao trabalho. Trabalhei a meia bandeira, é verdade, mas trabalhei. O corpo doía até o resto de cabelo, tive uma febre esquisita de tarde, a boca seca, o estômago embrulhado, mas fui levando o dia.
Já tinha comprado os ingressos, achei melhor não desprezar e fui ao CCBB ver Mônica Salmaso e Guinga. A boca começou a perder a secura logo que Mônica iniciou o Estrada do Sertão de João Pernambuco e Hermínio. Achei que minha tia ia gostar que eu estivesse ali. Depois Mônica cantou seu repertório já conhecido dos discos, mas bom de ser ouvido milhões de vezes: Senhorinha, Minha palhoça, Cabrochinha, etc, fechando com Nem um pio, para a entrada de Guinga e Lula Galvão. Os dois são referências do violão moderno brasileiro, mas a que mais gostei foi Guinga cantando sozinho essa canção Contenda, que fez em parceria com Thiago Amud, e tinha passado batido do Casa de Villa. Belíssima.
No final, Guinga e Mônica fizeram um set juntos e cantaram Estrada Branca (Tom e Vinicius) e Pra quem quiser me visitar e Noturna (ambas de Guinga e Aldir). A noite fria refletia na baía de Guanabara e achei que minha Tia estava por aí, olhando por nós.

Um comentário:

kellen disse...

francisco, sinto muito por sua tia. um abraço.

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