segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A história da Eclipse Discos


Laura e Luisa pediram, eu conto. Nos anos 90, resolvi prestar contas a um velho sonho: montar uma loja de discos. Eu já tinha um acervo e um amigo. Faltava um nome e um lugar. Pedi um nome à Lúcia, que trabalha comigo até hoje, e ela não pensou duas vezes: Eclipse. E aí tinha uma casa em frente à Praça em Miracema, antigo consultório do Dr Moacir, que estava disponível para aluguel. Foi assim que nasceu a Eclipse Discos.
Na época, o cd gravável era coisa rara e custava caro. Eu lembro que Marila e Mário trouxeram uns cds do Nordeste pra mim, gravados por um sujeito que tinha pago uma fortuna para digitalizar o acervo da Marinês. Na época da Eclipse, gravávamos fita cassete. Nada dava mais prazer do que fazer uma seleção e dar de presente pras moças.
Pois bem, a Eclipse vivia das fitas que o Jadim gravava a partir das seleções alheias. Disco mesmo, vendíamos pouco.
Saíamos aos fins de semana e íamos a Juiz de Fora, Rio, Niterói, onde fosse, para comprar discos. Nunca conseguimos comprar direto das gravadoras. Estávamos nos anos 90, mas o disco que mais vendia era o Fly by night, do Rush. Miracemenses adoravam Iron Maiden, Sepultura, um pouco dos Beatles e nada de música brasileira. Meu acervo inicial agregou pouco.
Mais que tudo, a Eclipse Discos foi um exercício de amizade e companheirismo que ajudou a consolidar o afeto recíproco que temos, eu e Jadim. Não importou o prejuízo enorme que deu no final, nem o fechamento intempestivo da loja. No inventário seletivo da memória, isso nem conta. Importou que, por alguns meses, nos tivemos um ao outro em conversas intermináveis, audições antológicas, as minhas melhores recordações musicais.
Quem tem essa oportunidade na vida? Quando? Eu vivo ensinando aos meus colegas de trabalho que, sem esse exercício diário de amizade e consideração, nada flui. A Eclipse Discos só deu errado financeiramente. De resto, foi só alegria e boa conversa.
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Elba Ramalho diponibilizou seu disco no show no Teatro Rival e depois mandou essa: - comprem aqui ou nas melhores casas especializadas, se é que elas ainda existem.
É verdade. Não há mais lojas de disco. Os discos estão reduzidos às mega stores e qualquer dia desses, serão peças de museu.
Mas no coração vermelho do velho Francisco, ainda bate um surdo plangente das noites intermináveis da Eclipse Discos.
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Anat Cohen tamborila seu clarinete no meu ouvido cansado no ônibus 53, retornando pra casa, no disco do Choro Ensemble: é Paulo Moura renascido em choro. Lindo demais para dois ouvidos solitários!

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