sábado, 30 de abril de 2011

Ainda há aqueles



"Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente."

Fernando Pessoa

"Seu França não presta pra nada -
Só pra tocar violão.
De beber água no chapéu as formigas já sabem quem ele é.
Não presta pra nada.
Mesmo que dizer:
- Povo que gosta de resto de sopa é mosca.
Disse que precisa de não ser ninguém toda vida.
De ser o nada desenvolvido.
E disse que o artista tem origem nesse ato suicida."

Manoel de Barros

Os sábados vão se sucedendo e já me acostumei a um ou outro ser bom ou ruim. Se estivesse em Niterói, estaria feliz sozinho comendo biscoito e assistindo Drop dead diva. Mas acabei de chofre vindo pra Miracema e cá estou a refletir sobre Pessoa e Manoel, o que já é grande coisa. Passei na festa, comi uma carne e uma torta e voltei. Uma passadinha rápida como quem nada quer. Nada queria mesmo, a não ser carne e torta. E antes que comece a rodear sobre solidão e abstinência alcoólica, é melhor ir deixando de lado essa escrita cambeta.

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