segunda-feira, 6 de junho de 2011

Tinha uma pedra no meio do caminho ou tudo dói mais no inverno

Quando eu era menino, atendi muita cólica renal nos plantões noturnos miracemenses. Geralmente o sujeito já chegava pedindo um buscopan com glicose. Lá dentro do meu ser, ria daquelas histórias de que dói mais que a dor do parto, que é a pior das dores e por aí ia. Tinha certeza de que comigo, não!!!. Sem história familiar, os rins tinindo de bons, eu não ia ter aquilo nunca.
Pois não é que quarta de noite me apertou uma dor cortante no lugar da apendicite. Pensei: voltou a FDP! Mas depois lembrei que não tinha mais apêndice. E a dor ia piorando quanto mais caía a noite. Não aguentei, chamei Nélis.
Nélis veio e me levou pra tomografia. Encalacrada no ureter direito, a bichinha pulsava na minha barriga doída.
O pior e que no dia seguinte resolvi ir pra Miracema. A dor parecia suportável e pegar a estrada e fugir daqui era o mais natural. Que lástima! Penei a viagem inteira como se tivesse uma faca na barriga. A música me acalmava um pouco, mas quando Juca de Oliveira recitou o Poema de Finados de Bandeira, chorei de pena de mim. Já estava no Soberbo depois de subir a Serra dos Órgãos naquele sacolejo de dor.
Passei o cão nesses dias. Descobri que ir pra Miracema doente é muito ruim. Nada de sábados animados, nada de filhos pra almoçar comigo, e um frio de realçar a dor. O máximo que consegui foi algum conforto, a reza forte da minha mãe junto com chá de tudo quanto é rebenta pedra e alguns coquetéis de buscopan com glicose na veia.
Acordei hoje às duas da madrugada sem dor. Vi que era hora de peneirar de volta, esperei a manhã, enchi duas moringas de água e voltei.
Durante o desterro, vi alguns filmes interessantes, mas nenhum tão surpreendente e denso quanto o holandês Tirza.

Um comentário:

Anônimo disse...

Você não tem é juízo. Só apareça amanhã com a dita na peneira.
bjs

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