terça-feira, 15 de novembro de 2011

Que nem a gente


Favelado não é tudo traficante
Milionário não é tudo prepotente
Maltrapilho não é tudo meliante
Elegante não é, necessariamente,
Tudo competente
Ianque não é tudo imperialista
Paulista não nasceu tudo na mooca
Sambista não é tudo carioca
Artista não é tudo comunista
Maconheiro e indecente
Todo mundo é meio assim que nem a gente:
Tudo igual mas muito diferente

Muçulmano não é tudo terrorista
Imigrante não é tudo delinqüente
Deputado não é tudo oportunista
Retirante não é, necessariamente,
Tudo indigente
Baiano não é tudo irreverente
Mineiro não é tudo come-quieto
Batuque não é tudo o som do gueto
Barbudo não é tudo comunista
Militante ou presidente
Todo mundo é meio assim que nem a gente:
Tudo igual mas muito diferente

Celso Viáfora, Que nem a gente


Fui tomado de surpresa dessas que só o cinema e a música podem trazer, e aconteceu no meio de bons e maus momentos que tive nesse feriado de terça, no finalzinho dele, para abençoar esse dia torto de viagem e cansaço: esse filme francês "Os nomes do amor" é, como há muito não tem sido, desses filmes que fazem levitar, que desmontam a gente das poltronas dos cinemas. Desses em que a gente descobre que a vida só vale o pouco que vivemos, o minguado da nossa existência. Logo me remeteu à canção de Celso Viáfora, que ano passado produziu-me sensações semelhantes quando fora descoberta.

Ontem só conseguira escrever isso:

Ledo engano: Eu separo o segundo caderno de sábado e domingo e guardo. Miracema me espera. Separo as Vejas não lidas, as Bravos, as Roling Stones, pensando que finalmente chegará o dia de lê las. Chego aqui e o que sei fazer é não mais que uma extensão do que faço lá: abro e-mails de vez em quando, respondo, vejo filmes, reabro, respondo de novo. Rezo por um dia branco, em que eu possa finalmente ler a coluna do Wisnik sem largar no meio, rir dos críticos da revista, reclamar do excesso de propagandas.

Mas agora, esse filme me fez ver as coisas de um jeito diferente. Devolveu-me alguma esperança inútil, mas é certo que devolveu. Os momentos compartilhados com meus filhos cada vez mais estreitos, as canções que saíram ontem daquele sarau abstêmio lá em casa, a devoção que alguns amigos de casa e do trabalho dividem comigo, o ouvido atento ao som do carro pra viagem passar mais rápido, a compreensão, a fé em alguma pouca humanidade, mas que seja. Valeu!

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