domingo, 18 de dezembro de 2011

Muitas noites numa noite

Eu era moleque da Rua das Flores. Ao lado da minha casa, ficavam na sequência: a casa da minha bisavó (Marieta), a quitanda do Seu Said, a casa da Dona Odete e o Clube Operário. No Clube Operário, reinava o Botequim do Amado, sua pastelaria de vento, sua sinuca de bico, seu jeito de amigo. Não foi difícil ficar amigo. Mais tarde, amigo e frequentador. Mais tarde, sede do Bloco Carnavalesco Reminiscentes do Chapéu Coco, que reinou no carnaval miracemense no final dos anos 70. Mais tarde, padrinho dos meus três casamentos: um na igreja e dois de fé. Acabo de saber que me deixou de vez. Tento acreditar que vai ser a mesma coisa sem ele, mas é difícil. O mundo, o meu em particular, acaba de perder um amigo universal.
Desrespeitosamente, não fui ao velório, mesmo estando em Miracema. Preferi lembrar dele como da última vez que o vi no seu último botequim, próximo ao Campo de Aviação há cerca de dois anos. Depois as coisas foram atropelando o dia e acabei não indo mesmo: Chicó e Luisa até as 4, a casa do Jadim às 4 e 30, overdose de pasteis da Dona Ricarda às 5.
De noite fomos à Pádua pra ver os meninos tocar. Entre um choro e outro, um desespero e outro, fiquei ali dividindo a noite com meus amigos, mas dividido do que dividindo.
Em casa não foi diferente, com Chicó cubando o tempo todo no meu cangote.
A noite passava estranha como sentir dor num pé amputado.

Um comentário:

ALEXANDRE MOURA disse...

Estou sabendo agora da partida do Seu Amado. A última vez que o vimos foi há 2 anos, quando fomos apanhar umas mesas para o Reveillon; naquele dia achei que o velho Amado já tinha ido. Agora acho que ele só veio buscar o resto para se juntar à sua verruga de estimação, retirada á sua revelia naquela cirurgia de úlcera; agora as meninas vão poder brincar com ela novamente.
Paul Alex, pelo Recco.

Triste cuíca

Aceitar o castigo imerecido Não por faqueza, mas por altivez No tormento mais fundo, o teu gemido Trocar um grito de ódio a quem o fez As de...