terça-feira, 12 de maio de 2009

Velha amiga


Passei uma vida acordando de madrugada. No princípio, era influenciado pelas viagens do meu pai, sempre saindo muito cedo para a labuta. O burburinho da casa fazia com que a gente acordasse. Minha mãe estimulava que eu e meus irmãos estudássemos logo cedo. Eu gostava porque ganhava parte do dia para brincar.
Mais tarde foi virando um costume. Com o tempo, foi ficando desesperador. Médico, provei de todos os venenos disponíveis para insônia. Os plantões noturnos acabaram por minar de vez o sono bom.
Todas as trapaças que a vida nos apronta tiveram um impacto terrível na minha insônia. Piorei ainda mais a situação criando um vício mortal em lexotan. Um ansiolítico desses considerados fraquinhos, na verdade, não resolvia minha insônia, me deixava melancólico e fiquei dependende dele. Por muitos e muitos anos.
Dois anos de terapia, mudança de química, consegui não só me livrar do lex, como reestabelecer um bom horário de dormir. Hoje normalmente tenho um acordar lento, consigo estar em paz com o interior. Óbvio que minha vida mudou pra melhor.
De vez em quando, como hoje, como se fosse uma velha amiga, a insônia da madrugada me volta. Conversa comigo, perturba minha calma, embaralha meus pensamentos bons.
Sempre que posso, estimulo meus filhos a nunca perderem a capacidade de dormir bem. É um dom muito caro, difícil de recuperar quando se perde.
Anatomia chata da mesma insônia aqui e aqui.

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