terça-feira, 26 de outubro de 2010

Luisa

Numa noite mágica de 2007 em Ouro Preto, vi o pianista Aaron Goldberg tocar a versão mais bonita de Luisa que já ouvi. Dava pra ficar embriagado sem vinho, viajar sem sair do lugar, dava pra morrer feliz ali. Corri atrás do disco, mas ele ainda não tinha gravado a canção. Esperei até hoje pra ouvir de novo. O que Aaron faz com Jobim é de ressuscitar Jobim, de ver Jobim renascido dançando aquela valsa que deu nome à minha Luisa, que já me fez chorar com Edu, com Tom, e de ficar absolutamente perplexo de como alguém pode tornar ainda mais bonito algo que já é tão sublime.
Home já desponta entre os grandes discos e acontecimentos de 2010. Já voltei 300 vezes o Itunes.
E olha que estou em São Paulo. Ultimamente, todos os meus vazios e tristezas acabam se realçando em São Paulo. Mas Luisa se encarregou de levar a tristeza pro balaio hoje.

sábado, 23 de outubro de 2010

Quero ser Roberto Bolaño




Daniel Galera bebeu na fonte de Roberto Bolaño para escrever Cordilheira. Há muitas referências, inclusive a própria (Bolaño é citado no livro). O livro gira em torno da história de um grupo de escritores argentinos malucos. Só faltou um poeta! Galera parece querer explorar, mas conhece pouco do tango. A história de Malena, composição de Homero Manzi, é das poucas referências interessantes no livro sobre o tema.
Encerrei Cordilheira à fórceps durante a manhã e meia tarde de hoje, aguardando Laura no vestibular da Praia Vermelha. O livro é bom, mas tem umas partes chatas. Que fazer? Até Detetives Selvagens, o clássico de Bolaño, tem umas partes meio chatas.
Pra ser sincero, gostei mais de Até o dia em que o cão morreu. Da mesma forma que Detetives não é meu Bolaño favorito. O que mais gostei de ler foi Na pista de gelo.
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Chegou a Caixa Preta do Selo SESC contendo a obra completa de Itamar Assumpção. Dê-se ao luxo!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Quero ser Brecht

"Há fases em que os sonhos não se convertem em planos, nem as intuições em conhecimentos, nem a nostalgia nos incita a nos movimentar. Esses são maus tempos para a arte."

Bertold Brecht.


Fomos eu e Laura ontem assistir à Ópera dos Vivos no CCBB. Laura tinha me passado a incumbência de conseguir os ingressos e tive alguma dificuldade, mas acabei conseguindo. Quando chegamos ao Teatro, descobri que o tempo da peça era de 4 horas. Surtei, considerando que trabalho na sexta, tenho sono ruim, mas Laura me convenceu a ficar com argumentos de baixíssima compreensão. Tudo bem, faz parte.
Não gostei do que vi. Gosto do teatro que me emociona. Se não vier uma mínima congestão nasal durante o espetáculo, não dá pra ser feliz. E, sinceramente, dava pra fazer um compacto de hora e meia que talvez ficasse mais bonito. A peça é dividida em quatro atos, sendo que o segundo é um filme em preto e branco absolutamente desnecessário. Mescla golpe militar, povo sofrido e mercantilização do trabalho artístico de forma meio desordenada e, às vezes, sem muita ligação. Há referências nítidas à Bertold Brecht, inclusive a frase aí de cima, distribuída à platéia. A Companhia do Latão tem ótimos atores, parece bem estruturada do ponto de vista de luz e cena, mas ficou me devendo um texto melhor. E mais curto, naturalmente!
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Cheguei em casa e vi outra vez o quinto capítulo de Boardwalk, antes de dormir. Uma pintura!
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Renatinha não comenta mais, Kellen virou ativista política, estou perdendo meus 3 ou 4 leitores. Assim só tem um jeito: greve!!!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Trechos da Cantareira


"É que no fim da estrada eu vejo quatro horizontes
Há mar, há montes de histórias, mistérios, sedes distintas.
Aquilo que te sacia pra mim é um três por quatro
O que retrata meu medo pra você não tem segredo.
O que pra ti é degredo pro outro é porto seguro
Seu furo de reportagem pra nós é mera bobagem.
Viagem sem paradeiro nos faz tão perto e distantes
Depois da minha chegada, sua partida, seu antes
Estrada de quatro sentidos
Encruzilhada de destinos
Quanto mais flor mais mulher
Quanto mais velho mais menino "

Pedro Luis, 4 horizontes.

"Às vezes, me levava pra comer fora, mas só quando eu pedia. Entre meus treze e dezesseis anos, mais ou menos, naquela idade em que preferimos não fazer nada na companhia de um pai, eu tratava de combinar um almoço na casa de uma amiga ou um passeio no shopping aos domingos e o deixava desacompanhado, e mesmo assim ele fervia sua feijoada ou assava sua picanha e almoçava sozinho."

Daniel Galera, Cordilheira

Da Barca Martim Afonso, pode se ver nitidamente os 4 horizontes da canção de Pedro Luis, numa versão que saiu agora no disco novo do Lenine (Lenine.doc), ainda mais tocante que a original. Além de Lenine, o aleatório alterna Elvis Costelo, Deneil Laranjeiras, Soledad Vilamil, Zé Ramalho (no bom interpreta Jackson do Pandeiro) e outros que não me lembro. Tento emplacar o livro de Daniel Galera. O trecho acima é delicado e parece que o autor começa a passar por cima das dificuldades de ter escolhido um narrador feminino. Também tento ler O Globo de hoje, só esportes e caderno B (nada de política, desastres, cataclismas). João Máximo escreve sobre os 70 anos de Pelé com a competência de sempre. A baía parece tensa e os 20 minutos correm devagar.

Estou assistindo Boardwalk Empire. Não acredito que teremos nada melhor em 2010 na TV. A cena final do quinto capítulo, sem falas, apenas conduzida pela canção Nights in Balligran (Carrickfergus) é das mais bonitas que já vi em televisão e cinema.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A história da Eclipse Discos


Laura e Luisa pediram, eu conto. Nos anos 90, resolvi prestar contas a um velho sonho: montar uma loja de discos. Eu já tinha um acervo e um amigo. Faltava um nome e um lugar. Pedi um nome à Lúcia, que trabalha comigo até hoje, e ela não pensou duas vezes: Eclipse. E aí tinha uma casa em frente à Praça em Miracema, antigo consultório do Dr Moacir, que estava disponível para aluguel. Foi assim que nasceu a Eclipse Discos.
Na época, o cd gravável era coisa rara e custava caro. Eu lembro que Marila e Mário trouxeram uns cds do Nordeste pra mim, gravados por um sujeito que tinha pago uma fortuna para digitalizar o acervo da Marinês. Na época da Eclipse, gravávamos fita cassete. Nada dava mais prazer do que fazer uma seleção e dar de presente pras moças.
Pois bem, a Eclipse vivia das fitas que o Jadim gravava a partir das seleções alheias. Disco mesmo, vendíamos pouco.
Saíamos aos fins de semana e íamos a Juiz de Fora, Rio, Niterói, onde fosse, para comprar discos. Nunca conseguimos comprar direto das gravadoras. Estávamos nos anos 90, mas o disco que mais vendia era o Fly by night, do Rush. Miracemenses adoravam Iron Maiden, Sepultura, um pouco dos Beatles e nada de música brasileira. Meu acervo inicial agregou pouco.
Mais que tudo, a Eclipse Discos foi um exercício de amizade e companheirismo que ajudou a consolidar o afeto recíproco que temos, eu e Jadim. Não importou o prejuízo enorme que deu no final, nem o fechamento intempestivo da loja. No inventário seletivo da memória, isso nem conta. Importou que, por alguns meses, nos tivemos um ao outro em conversas intermináveis, audições antológicas, as minhas melhores recordações musicais.
Quem tem essa oportunidade na vida? Quando? Eu vivo ensinando aos meus colegas de trabalho que, sem esse exercício diário de amizade e consideração, nada flui. A Eclipse Discos só deu errado financeiramente. De resto, foi só alegria e boa conversa.
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Elba Ramalho diponibilizou seu disco no show no Teatro Rival e depois mandou essa: - comprem aqui ou nas melhores casas especializadas, se é que elas ainda existem.
É verdade. Não há mais lojas de disco. Os discos estão reduzidos às mega stores e qualquer dia desses, serão peças de museu.
Mas no coração vermelho do velho Francisco, ainda bate um surdo plangente das noites intermináveis da Eclipse Discos.
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Anat Cohen tamborila seu clarinete no meu ouvido cansado no ônibus 53, retornando pra casa, no disco do Choro Ensemble: é Paulo Moura renascido em choro. Lindo demais para dois ouvidos solitários!

domingo, 17 de outubro de 2010

Restos de fim de semana


Terminei a primeira temporada de Damages, e o que mais me impressionou não foi Glenn Close nem Rose Byrne, nem a boa história. O grande destaque da série pra mim foi o personagem do iugoslavo Zeljko Ivanek, o advogado Ray Fiske. Ele faz aquele advogado sombrio e mal dormido que parece saído dos melhores livros policiais obscuros.
Também vi o inglês The damned united, que aqui no Brasil levou o espantoso nome de Maldito Futebol Clube. É espantoso porque empobrece o interesse pelo excelente filme, com desempenho idem de Michael Sheen. Bom para técnicos retranqueiros.
Final de semana de cama com Laura doentinha e vimos a metade da quinta de Lost, que já ia meio esquecida na estante. A série parece cada vez mais confusa e descamba perigosamente para um desfecho religioso e clichê.
Para coroar, o abominável empate de Fluminense e Botafogo. Se houvessse justiça no futebol, os dois deveriam sair dali perdendo 3 pontos cada um. Nem eu errava tanto passe quando jogava de beque no Miracema Futebol Clube.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Enquanto houver canção

"Por uma cabeça
Estão a prêmio
Estão apenas
Por uma jogada
Por uma tacada
Por uma sacada de gênio.

Eles tão armados
Estão jurados
Intencionados
Fazendo sinais de fumaça
Para anunciar que eles estão chegando.

Seus puro sangues lado a lado
Vêm galopando
Levantando poeira
Vociferando
Quebrando o silêncio.
Eles vêm fazendo o nome
Eles vêm de boca em boca
Colocando palavras na lingua do povo.

São quatro caboclos em volta da mesa
Quatro presas versando em prosa
Travando trovas
Lembrando lendas
Alucinados.
Paladinos do apocalypse
4 vértices, 4 histórias
São procurados e perigosos
Tome cuidado!"

(4 Cabeça)

O pianista pernambucano Deneil Laranjeira está lançando Irresistível Miudinho, releitura da obra de Alfredo Gama, uma espécie de Ernesto Nazareth de Pernambuco. Um ótima oportunidade para conhecer o trabalho de um e outro.
Também interessantíssimo, o disco do compositor Luiz Gabriel Lopes, Passando Portas, carregado de sotaques múltiplos, um bocado de fado misturado com flamenco com pura canção brasileira. A canção O Papa, o Cão , a Alfama já é séria candidata a figurar entre as melhores do ano.
Ontem (quanto tempo perdi e que bom que ainda existam essas surpresas na nossa vida besta!!!), fui apresentado à cellista Beata Soderberg pelo Fernando lá da Arlequim do Paço. Um pitéu sueco que faz um tango muito próximo de Piazzolla para ser ouvido de joelhos de preferência.
Meu shuffle também não se cansa de mandar a obra prima Ronaldo do Bandolim interpreta Ernesto Nazareth, presente de Marila, irretocável. No mesmo nivel das releituras de Jacob e Déo.
Gabriel Moura, Luiz Carlinhos, Rogê e Baía se juntaram para formar o 4 Cabeça e gravaram um belo disco, a começar pela música título, um achado!
E há (bons) discos novos de Clapton, Baleiro, Lucina, muito que ouvir por aí.
Não há o que temer quando se tem boa música por todos os lados.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

E essa vida da gente gritando que não.

O inferno é o Aeroporto de Congonhas, onde passei cinco longas horas de espera ontem. A primeira hora foi na fila do check in da Gol. Nunca vi tanto desrespeito com o cliente! Fazem o que querem: cancelam seu vôo, mudam o horário, atrasam tudo e você tem que ouvir calado. A 1001 tem uma atendimento 10 vezes melhor que o da Gol e você nem precisa sair do chão. Nem tinha subido a rampa do aeroporto e o vôo foi novamente cancelado por conta do tempo. E aí - pasme! - tive que fazer um novo check in. Mais uma hora na fila. Depois passei três horas mudando de porta até que me mandaram para o piso inferior, aquele que você tem que pegar um ônibus pra chegar no avião. Cheguei em Niterói com a orelha queimando, mas aliviado. A queimação de orelha entrou noite adentro, nem o rivotril refrescou.
Três dias de trabalho em São Paulo e já estava perdendo as esperanças. Ainda tive que ver o Fluminense levar de 3 a 0 do Santos em plena Alameda Santos.
Acho que já comentei isso, até pouco tempo atrás, adorava ir a São Paulo, costumava ir de véspera pra ver alguma coisa no Satyros. Dei uma olhada no site do Mário e vi que estavam levando Uma pilha de pratos na cozinha. Até deu vontade de pegar um táxi e ir, mas aí veio aquele engodo de cansaço e tédio e fiquei no hotel mesmo.
Com esses ingredientes todos, São Paulo virou pra mim, um suplício a ser evitado e diminuí consideravelmente a cota de idas, transferindo algumas responsabilidades para Renatinha, que nasceu naquelas terras e gosta de viajar pela Gol.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Há um lado carente dizendo que sim

Desacostumei de carinho, como diria Fátima. Doei alguns anos irrecuperáveis da minha vida para o impossível. Nesse tempo, desaprendi. Agora tento ter esperanças de, ao menos, voltar a sentir alguns daqueles ritos afetuosos.
O primeiro Lupicínio que conheci foi o Gonzaguinha do título desse post. Tinha uma identificação forte com suas canções românticas. O long play Gonzaguinha da Vida também furou no 3 em 1 National Panasonic que meu pai me deu.
Se pudesse resgatar um pedaço pequeno do que fui naquele tempo bom, já seria razoável.
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É verdade que tenho tentado. É verdade que, mais que isso, tenho conseguido. Ainda é cedo pra dizer que renasci, mas a sensação de estar vivo vai ganhando corpo a cada dia.

Travado

"Diferente o samba fica Sem ter a triste cuíca que gemia como um boi A Zizica está sorrindo Esconderam o Laurindo Mas não se sabe onde ...